A boda da avó Manuela

Foi em 1967. Ou talvez em 66. Em Agosto, acha ela. 18 ou 19, ou o que foi.

Foi há muito tempo, filha.  

Foi a meio dos vintes dela. E foi noutro tempo. Não há nenhuma fotografia da avó Manuela vestida de noiva, de braço dado com o avô Rato – porque não havia fotógrafo e porque não houve vestido de noiva. A avó casou com o saia-casaco cor-de-rosa que a tia Teresa lhe emprestou. Casou grávida da tia Bibi. Mas não casou à pressa, vivia com o avô há três anos. E só casou porque quis. Porque quando não quis – com o pai do pai, o avô Fernandes – não casou.

Eu ainda não conseguia sustentar-me e não estava para depender de um homem. Era o que faltava. E depois olha.

Disse que não. O pai nasceu em 1960. A avó Manuela era muito nova e muito magrinha. Muito mais magrinha do que eu, a mana e as primas. Tinha um cabelo muito lindo, brilhante, todo às ondas.

E o avô Rato pediu-te em casamento?

Pediu-me cá agora em casamento. Nem em namoro. Conhecemo-nos e fomos lidando, lidando. Ele deixou uma namorada que tinha por minha causa. E gostava muito do teu pai, levou-o logo para o apresentar à mãe dele. Fomos sempre muito amigos. E eu também tinha muitos pretendentes. Cheguei a receber pedidos depois de já estar casada. Uma vez veio aqui um moço dizer-me: “Ó Manela, disseram-me que tu ‘tavas solteira, eu sempre quis casar contigo”. E eu disse-lhe: “Disseram-te mal, que eu já casei”.

Era uma quarta-feira, isso é certo. Era o único dia de folga do avô e da avó no restaurante. O tio Tói não chegou a tempo de ser o padrinho, atrasou-se. Foi o tio Domingos, escolheu-se ali, à porta do notário. Ou talvez lá dentro.

Foi há muito tempo, filha.  

E foi noutro tempo. Não houve lua-de-mel. Nem festa. Só almoço. Em casa, na Rua Serpa Pinto, em Almada. Frango guisado com batatas cozinhado pela avó Manuela, que me deu o privilégio de ter dois avós paternos.

Joana.

Joana